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O desejo de interrogar sobre a práxis do psicanalista na instituição hospitalar nasceu, desde o início, do seguinte questionamento: A psicanálise, como uma das respostas para o sofrimento humano, por que não poderia estar também no hospital geral?

Iniciamos nossa experiência da inserção do trabalho na instituição hospitalar em 1978 e, nas décadas de 1970 e 1980, testemunhamos um tempo de resistência dos psicanalistas com relação à práxis do psicanalista em locais diferentes do setting analítico do consultório.

“Isto não é psicanálise”, então falado pelos psicanalistas nesta época, e essa fala nos lembra Freud em sua querela com Adler e Jung: “isto não é psicanálise” em História do Movimento Psicanalítico, que exigiu de Freud, naquele momento, sustentar os princípios éticos da psicanálise. Resistência que exigiu e vai sempre exigir a formalização e sustentação ética da práxis do psicanalista, também no espaço hospitalar.

A psicanálise sempre suscitou resistências, e o recalcamento que faz parte de sua existência se encarrega de preservá-las. Onde tem resistência tem algo do real e do desejo… E bem lembra Elisabeth Roudinesco que grande parte da história da psicanálise é contada pelas resistências a ela.

Talvez naquele tempo não se soubesse o que era um psicanalista e por isso era necessário o setting para que ele pudesse “isolar” o que interferiria em sua “operação” (localizar-se enquanto analista). Com Lacan e a partir da formalização do analista como função, efeito de sua própria análise, autorizou e convocou eticamente o analista a se implicar nas atividades Hors murs.

O compromisso com a transmissão da psicanálise acontece em vários “espaços” da cultura, sempre sustentado pela premissa de que a posição do psicanalista deve preservar, em todas elas, a relação com a verdade. Essa relação, por sabermos que a verdade é não toda, exige submetê-la à análise. E é o que vem acontecendo e permitindo não só a presença do psicanalista como também avançar em suas formalizações teóricas.

FREUD, S. A história do movimento psicanalítico, 1914 vol. XIV, p. 57.

ROUDINESCO, Elisabeth. Em defesa da psicanálise, ensaios e entrevistas. Rio Janeiro: Zahar, 2010.